"Às vezes digo coisas ácidas e de alguma forma quero te
fazer compreender que não é assim, que tenho um medo
cada vez maior do que vou sentindo em todos esses
meses, e não se soluciona, mas volto e volto sempre, então
me invades outra vez com o mesmo jogo e embora supondo
conhecer as regras, me deixo tomar inteiro por tuas
estranhas liturgias, a compactuar com teus medos que
não decifro, a aceitá-los como um cão faminto aceita um
osso descarnado, essas migalhas que me vais jogando
entre as palavras e os pratos vazios (…) Tornarei sempre
a voltar porque preciso desse osso, dos farelos que me têm
alimentado ao longo deste tempo, e choro sempre
quando os dias terminam porque sei que não nos
procuraremos pelas noites, quando o meu perigo aumenta."
Caio F. Abreu in “Os Dragões não Conhecem o paraíso”.
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